recém ostomizados

Antes da cirurgia

A primeira etapa a ser vencida acontece já antes da cirurgia. É necessário que o médico determine a localização da sua ostomia, bem como a técnica a ser utilizada. Cada pessoa, conforme a doença que tenha motivado a implantação da ostomia, e também as suas condições gerais de saúde, terá uma estratégia definida pelo cirurgião de forma individualizada. Também será necessário determinar se a ostomia será, a princípio, temporária ou permanente.

Alguns cirurgiões têm na equipe enfermeiros com especialização no cuidado com ostomias, os estomaterapeutas. Entre outras decisões importantes, esses profissionais podem ajudar você na definição do local onde será instalado o seu estoma – onde quer que seja mais fácil para que você possa cuidar dele você mesmo!

Após a cirurgia

Logo após a cirurgia, é muito comum experimentar medo, ansiedade, revolta. Apesar de toda a preparação, das conversas com o médico, ter um estoma implantado em seu corpo vai ser difícil. É difícil para qualquer pessoa, saiba disso.

A boa notícia é que, com alguns ajustes muito simples na sua rotina, você poderá se adaptar à sua nova vida normal.

Antes de mais nada, é importante reconhecer que o procedimento, o estoma, a bolsa – tudo isso faz parte da solução do problema que havia levado você ao médico em primeiro lugar. Seja por conta de um tumor diagnosticado há pouco tempo, seja após anos de dor e sofrimento por conta de uma doença inflamatória intestinal, a cirurgia e tudo que vem depois são o começo de um novo capítulo na sua história – de cura, de tratamento, de alívio.

No pós-operatório, prepare-se para encarar, pela primeira vez, o seu estoma, a bolsa, o que houver de conteúdo nela. Se você puder ter uma pessoa querida para apoia-lo nesse momento, será muito conveniente. Essa bolsa, do pós-operatório imediato costuma ter um tamanho maior do que aquela que você vai usar na sua rotina. É frequente que, nos primeiros dias após a operação, o seu intestino produza muito gás e faça muitos ruídos – isso melhora com o tempo. Também é comum que haja um pouco de sangue no conteúdo da bolsa nos primeiros dias. Não se assuste.

Então vem a primeira troca da bolsa. Você se verá preocupado em aprender todos os mínimos detalhes, como se não pudesse fazer nada remotamente diferente da instrução que está recebendo no hospital. Isso não é verdade. Com o tempo você verá que, respeitados alguns aspectos básicos, cada pessoa tem uma forma individual de cuidar de sua ostomia.

Tudo vai dar certo…

Nos primeiros dias, é esperado que as dificuldades pareçam insuperáveis… Com o passar das semanas, a prática melhora sua habilidade, a rotina vai se ajustando e você vai ganhando confiança.

Conheça os equipamentos e materiais

São muitas as opções de equipamentos e materiais disponíveis ao ostomizado atualmente. As bolsas em geral são produzidas de material descartável, transparente ou opaco. Além disso, há uma variedade de tamanhos e modelos, para melhor se adaptar aos contornos do seu corpo e serem o mais discretas possível.

Para que você tenha sucesso na escolha de seu equipamento, procure pelas seguintes características:

  • seja fácil de colocar e remover;
  • seja discreto, isto é, quando usado por baixo da roupa, ninguém poderá dizer que você está usando uma bolsa de ostomia;
  • tenha uma barreira para proteção da pele – separada em outra peça ou acoplada à bolsa numa peça única;
  • seja revestida com filme anti-odores e;
  • tenha uma boa proteção contra vazamentos.
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Todas as bolsas têm um único propósito, que é coletar e armazenar as fezes eliminadas através do estoma. Algumas delas vêm numa peça única, em que a base (barreira para proteção da pele) está acoplada à bolsa. Outras, em duas peças, uma sendo a base e outra, a bolsa. O acoplamento entre elas pode ser feito por um encaixe das peças ou por meio de um adesivo.

Da mesma forma, existem bolsas que têm uma abertura na parte inferior, que serve para drenar, isto é, esvaziar a bolsa sem que seja necessário troca-la cada vez que ela estiver cheia. Outras bolsas não têm essa abertura, e precisam ser trocadas sempre que estiverem cheias.

Por fim, há bolsas em que a superfície de encaixe com o estoma é plana, e outras em que essa superfície é convexa, ou seja, arredondada como se fosse o lado de fora de uma esfera. Tudo para melhorar o encaixe do equipamento com a sua pele, garantindo a máxima proteção e segurança.

Como escolher a bolsa correta

A bolsa deve se ajustar perfeitamente aos contornos do seu corpo, garantindo conforto e segurança. Escolher o equipamento correto de ostomia, nesse sentido, não muito diferente de escolher um par de óculos.

No início, pode ser que você tenha que fazer algumas experiências, até chegar ao modelo ideal. A ajuda de um enfermeiro estomaterapeuta pode ser muito útil: esse profissional tem o conhecimento de muitas das opções de equipamentos disponíveis no mercado nacional, além de poder ajudar você a superar as dificuldades mais comuns.

Em relação à abertura da barreira da pele ao estoma, há duas possibilidades: alguns equipamentos vêm previamente cortados em medidas padrão. Outros não, e é a própria pessoa (ou o enfermeiro, no início) quem mede o tamanho do estoma e corta a abertura conforme essa medida. Isso pode ser muito útil nas primeiras 6-8 semanas após a cirurgia, quando o estoma ainda está inchado, e seu tamanho varia em função disso.

Em ambos os casos é importante lembrar que a pele periestomal precisa estar bem protegida. Por isso, tenha sempre em mente que o diâmetro do orifício de abertura da barreira deve ser o mais ajustado possível ao tamanho do estoma.

Se for menor, poderá machucar o estoma. Se for maiordeixará a pele desprotegida. Na verdade, é até possível que a abertura da barreira seja um pouco maior, mas essa diferença não pode ser superior a 3mm.

Outros equipamentos

Além dos equipamentos básicos de ostomia, há uma série de outros itens disponíveis para melhorar o seu conforto, aumentar o intervalo entre as trocas da bolsa ou mesmo facilitar o cuidado com o estoma.

Há produtos para preparação da pele, adesivos de vários tipos e em diversos formatos, anéis e cintos – todos produtos feitos para melhorar a barreira de proteção da pele, se o seu abdome tem irregularidades no contorno ou cicatrizes, se o seu estoma é plano ou retraído, ou se vazamentos são um problema para você. As preparações de pó para estoma servem para proteger a pele lesionada por sob a base adesiva.

Se a sua decisão for experimentar um cinto de ostomia, lembre-se: ele não deve estar justo a ponto de comprimir a bolsa, machucar o estoma ou a pele. O ideal é que haja uma distância de 2 dedos entre o cinto e a pele. Se você usa uma cadeira de rodas, pode precisar de um cinto especial. Há ainda os produtos desodorantes para ostomia, que podem vir na apresentação de gotas ou spray para serem colocados na bolsa, ou mesmo como drágeas para uso oral.

São tantos os produtos disponíveis, com tantas marcas e variações, que é até difícil escolher… Esta é mais uma situação em que uma boa conversa com o enfermeiro estomaterapeuta pode ajudar você a escolher corretamente os melhores produtos, economizando tempo e dinheiro.

Dicas importantes

  • para facilitar as coisas, procure deixar todos os insumos (equipamentos e materiais) organizados numa gaveta de fácil acesso para você, ou então numa caixa plástica sobre alguma prateleira bem localizada. Cuide para que esse local esteja sempre limpo, seco e protegido do sol e do calor;
  • não deixe seus estoques chegarem ao fim. Então organize-se para adquirir os materiais e equipamentos que você usa com algumas semanas de antecedência. Você nunca sabe com certeza quanto tempo eles demorarão a chegar (caso você os receba em casa) e nem se o lojista terá em estoque todos os itens do seu pedido;
  • mas não faça um estoque muito grande: esses itens têm validade determinada e a exposição a condições adversas (como calor excessivo por exemplo) pode alterar a qualidade dos materiais;
  • lembre-se que o manuseio da ostomia e dos materiais tem que ser feito de forma limpa, mas não estéril. Lavar as mãos e higienizar o estoma e a pele em torno é suficiente para prevenir infecções;
  • sempre que for sair de casa, seja para o trabalho ou para um passeio curto, tenha sempre com você uma pequena bolsa, com um kit de emergência: base, bolsa, adesivos, material de higiene. É importante estar prevenido contra imprevistos, sempre!
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Gases intestinais

É normal que, nos primeiros dias após a cirurgia, você experimente uma produção maior de gases pelo seu intestino. Isso acontece em todas as cirurgias abdominais. Nada para se preocupar, porém. Apesar de incômodo, esse sintoma não tem nenhuma consequência importante para a sua saúde ou sua recuperação. E, naturalmente, melhor com o passar do tempo e a redução do inchaço do intestino no pós-operatório, o sintoma melhora.

Ainda assim, alguns hábitos podem ser evitados, para reduzir a produção de gás intestinal – não fumar, não beber em canudos, não mascar chicletes, não ingerir refrigerantes ou certos alimentos (ovos, repolho, cebola, peixes e frutos do mar, doces, leite e derivados) pode ajudar.

Apesar do que muita gente pensa, manter-se longos períodos em jejum não reduz a produção de gasesPelo contrárioaumenta, pois o intestino fica mais ativo no jejum.

Odor

Normalmente você não deverá sentir qualquer cheiro vindo de sua bolsa de ostomia, a não ser nos momentos de troca. Certos cuidados podem deixa-lo mais tranquilo em relação a esse assunto, porém. Sua dieta influencia diretamente no odor das eliminações da sua ostomia. Se isso é um problema para você, alimentos como cebola, feijão, repolho, brócolis e ovos devem ser evitados. Determinados medicamentos (antimicrobianos e vitaminas) também podem estar envolvidos no problema. Discuta o assunto com seu médico.

Algumas dicas podem ajudar a lidar com esse desagradável problema:

  • verifique a aderência da bolsa/base à sua pele – uma bolsa bem colada evita que maus cheiros vazem do sistema;
  • troque a bolsa ou faça a drenagem com frequência;
  • procure usar bolsas revestidas com filme anti-odor;
  • é possível usar desodorantes específicos para ostomia – alguns são colocados dentro da bolsa, outros ingeridos pela boca. Converse com o seu médico ou enfermeiro estomaterapeuta sobre as melhores opções de produto, posologia e dosagem para você.

Constipação

Mais frequentemente um episódio de constipação se deve a uma dieta inadequada, à ingestão reduzida de alimentos ou mesmo ao uso de certas medicações. Você poderá discutir o assunto e explorar as possibilidades com seu médico. Se você sofria de constipação intestinal antes da cirurgia, procure se lembrar das medidas que o faziam melhorar. Não use laxantes sem antes consultar o médico.

Pessoas que têm ileostomias precisam estar especialmente atentas: caso não haja eliminações por um período de 6 horas e esse quadro seja acompanhado de náuseas ou cólicas, pode se tratar de uma obstrução intestinal. É um quadro potencialmente grave, que requer atenção. Medidas como um banho morno para relaxamento ou mudança de posição (você pode ficar agachado por um período, por exemplo) podem ajudar. Caso não haja melhora, é importante procurar atenção médica imediatamente.

Diarréia

A Diarreia pode ser definida como o aumento da frequência das eliminações, com consistência diminuída das fezes (fezes aquosas), de início súbito e acompanhada de dor abdominal em cólica. Para alguns pacientes (ileostomizados, ou pessoas com colostomia transversa, por exemplo) pode ser difícil ter certeza de que se trata de um quadro de diarreia. A melhor forma de confirmar o diagnostico é medir a quantidade de eliminações. Uma ileostomia pode apresentar uma drenagem de até 1 litro por dia.

Viroses intestinais, certos medicamentos (antibióticos por exemplo), água e alimentos de procedência duvidosa podem ser causas de diarreia.

Alguns alimentos podem ajudar no controle da diarréia, então vale a pena você ajustar a sua dieta neste período, sem perder o risco da desidratação.

E porque é importante estar atento para a desidratação?

Além da perda de água, é preciso preocupar-se também com as perdas excessivas de sódio e potássio. O quadro de desidratação consiste em aumento da sede, boca seca, indisposição e redução da quantidade de urina. É um quadro potencialmente grave e precisa de atenção médica imediata.

Medicamentos e absorção

Pessoas que têm uma ileostomia, principalmente, podem ter que lidar com esse problema: alguns medicamentos, como comprimidos revestidos ou cápsulas de liberação prolongada podem não ser absorvidos pelo intestino e acabar aparecendo junto com as eliminações, dentro da bolsa. Uma classe de medicamento de uso muito comum que pode apresentar esse problema são os anticoncepcionais.

Por isso, se você encontrou na sua bolsa de ileostomia medicamentos que deveriam ter sido absorvidos, ou mesmo se faz uso de anticoncepcionais, esteja atento – é sempre recomendável abordar o assunto com seu médico.

Reto fantasma

Mesmo após a cirurgia, algumas pessoas relatam a sensação de precisar evacuar, como se o trajeto natural para eliminação das fezes através do ânus ainda estivesse presente. Isso pode acontecer e não tem nenhuma consequência prática. A maioria das pessoas diz que o mero ato de se sentar no vaso sanitário e “simular” uma evacuação natural alivia a sensação.

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estomaterapeuta é o profissional enfermeiro que atua nos cuidados a pacientes com estomias, feridas e incontinências urinárias.A estomaterapia é a especialidade que habilita o enfermeiro a cuidar com destreza e segurança de ostomizados, nos ambientes hospitalar, ambulatorial e domiciliar. A SOBEST é a sociedade de especialidade que regulamenta o trabalho desses profissionais e fomenta o desenvolvimento da atividade.

As funções do estomaterapeuta também englobam o treinamento ao autocuidado do ostomizado, bem como de seus familiares e demais cuidadores. Esse enfermeiro conseguirá ajudar o ostomizado, trazendo segurança, tranquilidade e qualidade de vida.

Em quais situações um estomaterapeuta pode me ajudar?

  • Avaliando as condições do estoma, a presença de complicações e condições do dispositivo a fim de prescrever os cuidados necessários;
  • Mensurando o diâmetro do estoma e a espessura da parede abdominal, mas sempre depois de 4 a 8 semanas da estomia;
  • Avaliando as características de pele periestoma (pele ao redor do estoma) e também a presença de complicações, tais como irritações ou mesmo sinais de infecção local;
  • Prescrevendo os equipamentos e produtos apropriados, quando houver presença de complicações locais como dermatites ou feridas, por exemplo;
  • Estimulando e ajudando no retorno do ostomizado à vida social, ou seja, trabalhando na aceitação e autoestima;
  • Averiguando de que forma os cuidados com a estomia estão sendo realizados e reforçando as orientações, sempre que necessário
  • Acompanhando o tratamento e orientando quanto aos exames de rotina e especializados;
  • Orientando quanto ao autocuidado do paciente, promovendo assim a reabilitação.

Resumindo de maneira simples as funções de um estomaterapeuta, ele irá acompanhar o tratamento e orientar quanto aos cuidados necessários.

Eu preciso mesmo de um enfermeiro para ajudar nos meus cuidados?

É comum que após um longo período no hospital  você não se sinta confortável com a idéia de ter um enfermeiro perto de você por mais tempo.

Mas um estomaterapeuta será um grande apoio para que você se recupere e, assim, volte o mais rápido possível para sua rotina, suas atividades e independência.

Pense sempre em sua qualidade de vida e na tranquilidade de que sua recuperação ocorrerá da melhor forma possível com esse suporte.

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Então você quer saber mais sobre ostomias. Talvez porque tenha sido submetido a um procedimento para implantar uma ostomia. Talvez o médico tenha acabado de lhe dar a notícia de que você vai precisar dela. Ou ainda, pode ser que isso esteja acontecendo com alguém próximo a você. Não se preocupe, o que você precisa saber está aqui.

Ostomia é o nome que se dá ao procedimento cirúrgico que cria uma conexão artificial de um órgão interno oco, como o intestino, com o exterior. Mais frequentemente essa conexão se dá na região abdominal.

De modo geral, uma ostomia pode servir para auxiliar na eliminação de fezes ou urina. Em outros casos pode servir para ajudar na alimentação, quando comunica o estomago ou o jejuno (parte inicial do intestino) com o exterior. Nesse post, vamos conversar apenas sobre as ostomias de eliminação.

Os tipos mais comuns de ostomias de eliminação são:

(Aviso de língua estrangeira: Os vídeos produzidos pela UOAA, estão em inglês, mas é possível visualizar como cada cirurgia é realizada, facilitando a compreensão)

  • colostomia, que comunica o cólon, ou intestino grosso, com o exterior;
  • ileostomia, que conecta o íleo (parte final do intestino delgado) com o meio externo e;
  • urostomia, que liga os ureteres (pequenos canais que levam a urina dos rins até a bexiga) a uma saída através da parede do abdome.

É importante saber ainda que as ostomias podem ser temporárias (quando há expectativa de reversão, isto é, de restabelecer o trajeto normal das eliminações) ou permanentes. O que define se uma ostomia é permanente ou temporária é a própria doença que motivou o procedimento, bem como a saúde geral da pessoa que será operada.

Neste post, apresentaremos apenas os aspectos relacionados a ileostomia e colostomia.

Ostomia, estomia ou estoma?

Essa é uma dúvida muito frequente. De fato, o termo correto é estomia, uma vez que o e- é a vogal normalmente acrescentada aos termos que originalmente começam com s-, quando derivam do idioma grego. Ainda assim, o uso acabou consagrando as formas ostomiaostomizado, etc. Esse inclusive é o uso mais comum atualmente, e consta de vários dicionários da língua portuguesa.

O Estoma

Estoma é o nome que se dá à abertura da ostomia na pele

A palavra vem do grego (stoma), e significa orginalmente boca. Não é coincidência: a aparência do estoma lembra muito a da boca. Tem tamanho semelhante, embora um pouco menor, com formato redondo ou ovalado. Sua coloração também é avermelhada, sempre úmida e brilhante, de consistência macia ao toque. Diferente da boca, porém, o estoma não tem terminações nervosas, isto é, não dói.

Ostomia em números

Ano após ano, milhares de pessoas são submetidas a procedimentos de ostomia. Em muitos casos, são cirurgias que aliviam um sofrimento prolongado em função de doenças intestinais. Em outros tantos, ostomias são intervenções que salvam a vida!

Nos Estados Unidos, as estatísticas dão conta de 750 mil a um milhão de pessoas ostomizadas, com 100 mil novos procedimentos de ostomia realizados todos os anos.

É difícil precisar quantas pessoas no Brasil são portadoras de ostomias. Dados da ABRASO (Associação Brasileira de Ostomizados) apontam que esse número não é inferior a 100 mil.

Estimativas globais indicam que a frequência de indivíduos ostomizados é de 0,1% da população geral. Se aplicarmos essa proporção à população brasileira, podemos estimar que devem existir cerca de 200 mil ostomizados no país.

Entre as razões mais comuns para que o individuo tenha que ser submetido a uma colostomia, estão o câncer, a diverticulose (uma doença da parede do intestino grosso), a doença de Crohn, que é uma inflamação crônica do intestino, e os defeitos de nascimento – observados em bebês e crianças.

Já a ileostomia é normalmente feita em casos mais graves de doença inflamatória intestinal (doença de Crohn ou colite ulcerativa) e polipose familiar, quando pequenas tumorações (os pólipos) se desenvolvem por todo o intestino grosso em pessoas jovens e podem se transformar em câncer.

O sistema digestivo

Estrutura e função

Para entender melhor as características, complicações e cuidados com as ostomias intestinais, é importante conhecer o sistema digestivo.

Na bocao alimento é triturado pelos dentes e misturado à saliva que, além da função lubrificante, contém enzimas, que são substâncias químicas que ajudam na digestão. Quando engolido, o alimento segue através do esôfago até o estomago.

No estomago, a presença de ácidos potentes, juntamente com outras enzimas, dissolve o alimento até que este se torne líquido. O alimento, na forma líquida, segue então para o intestino delgado.

intestino delgado mede aproximadamente 6 metros e pode ser dividido em três segmentos: duodeno, jejuno e íleo. No intestino delgado o alimento líquido é mobilizado através do peristaltismo, que é um tipo de movimento normal do nosso sistema digestivo, que comprime o alimento, ao mesmo tempo que o impulsiona para frente. É justamente esse movimento que garante a absorção de nutrientes, como carboidratos, gorduras, proteínas, vitaminas e minerais.

A parte do alimento que não tenha sido absorvida pelo intestino delgado segue para o intestino grosso, também conhecido por cólon. Medindo 1,5 metro, o cólon é normalmente dividido em ceco, cólon ascendente, cólon transverso, cólon descendente e cólon sigmoide. Enquanto o alimento percorre as diferentes porções do cólon, água e minerais são absorvidos. À medida que o bolo fecal vai seguindo em direção ao sigmoide, a água vai sendo absorvida e aquela mistura líquida vai ganhando as características das fezes formadas.

Quando evacuamos, as fezes formadas seguem do sigmoide para o reto e então são expelidas através do ânus. Um músculo chamado esfíncter, presente no ânus, garante o controle voluntário sobre o ato de evacuar.

Entendendo as características de cada tipo de ostomia

Conhecendo um pouco sobre o sistema digestivo, você será capaz de entender que, dependendo do local onde for feita a abertura da ostomia, mudam as características das fezes, muda a ocorrência de complicações e muda também a rotina de cuidados.

Ileostomia

Uma ileostomia é uma abertura artificial, feita cirurgicamente, para comunicar o íleo (porção final do intestino delgado) com o exterior. A consistência das fezes é líquida ou pastosa (principalmente algumas semanas após a cirurgia). As fezes são também mais ácidas e podem ainda conter uma maior quantidade de enzimas. Por esse motivo, a irritação da pele em torno do estoma (pele periestomal) é uma grande preocupação. A rotina envolve cuidados com a pele, como bolsas que contenham uma barreira de proteção, e drenagem ou trocas mais frequentes. Também a ingestão de líquidosé um foco constante de atenção, pois a desidratação é um risco que precisa ser considerado para esses pacientes. O estoma, na ileostomia, normalmente se localiza no lado direito do abdome.

Colostomia

colostomia é a abertura que comunica, também de forma artificial, o cólon com o meio externo. Na colostomia ascendente, bem como na colostomia transversa, as fezes são um pouco mais consistentes (semi-pastosas) e ainda contêm enzimas. Os cuidados com a pele são também um ponto de atenção para quem tem essas ostomias. As trocas (ou a drenagem) podem ser menos frequentes, podendo inclusive ser usada uma bolsa fechada, sem drenagem, de vez em quando.

Já quando se fala da colostomia descendente ou da sigmoide, esperam-se fezes formadas completamente (ou quase), sem a presença das enzimas em sua constituição. As trocas são muito mais espaçadas, sendo que alguns pacientes podem inclusive simular uma evacuação natural. Isto é, controlar o momento de expelir as fezes pela ostomia. Outros ainda podem dispensar a bolsa: usam uma capa para o estoma e, periodicamente, irrigam o estoma para eliminar as fezes (vamos falar sobre isso mais adiante). O estoma, na colostomia descendente ou na sigmoide, está do lado esquerdo do abdome, normalmente.

Qualquer que seja o tipo de ostomia, o importante é entender que esse procedimento salva ou melhora a vida de quem precisa dele. E que, sim, a pessoa precisará ter um certo planejamento para algumas questões práticas do dia a dia, em função da presença de uma ostomia. Mas isso de forma alguma impedirá que ela tenha uma vida completa e feliz!

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