Salute

Guia para pais: O que é a Diabetes Tipo1

O diabetes tipo 1 responde por cerca de 10% dos casos de diabetes no mundo e acomete principalmente crianças e jovens. Assim como o diabetes tipo 2 (mais comum e conhecido), também se caracteriza pelo excesso de açúcar no sangue. As causas envolvidas, porém, são diferentes. Quer saber mais? Continue lendo!

O diabetes tipo 1 se caracteriza pelos níveis altos de glicose (açúcar) no sangue. Isso ocorre porque o organismo das pessoas com diabetes não tem a capacidade de controlar a taxa sanguínea de açúcar, conhecida como glicemia.

O que é o açúcar no sangue e por que ele é importante?

A glicose, principal açúcar no sangue, é a mais importante fonte de energia para o organismo. As fontes de glicose são os alimentos, tais como: frutas, legumes, pães, massas etc. Esses alimentos contêm carboidratos, que são convertidos em glicose pela digestão. 

Nosso corpo regula a quantidade de glicose no sangue de uma forma bastante complexa. Um dos principais hormônios envolvidos nesse controle é a insulina

Quando nos alimentamos, a comida é digerida e, consequentemente, a quantidade de glicose no sangue aumenta. Um órgão que temos no abdome (logo atrás do estômago), chamado pâncreas, é estimulado por essa quantidade aumentada de glicose e começa a secretar insulina para a corrente sanguínea. 

É a insulina que “ordena” que as células do corpo coloquem a glicose para dentro . Essa glicose dará a energia que cada célula precisa para manter seu funcionamento. 

Quando os níveis sanguíneos de glicose se normalizam, o estímulo sobre o pâncreas cessa, e ele deixa de secretar a insulina. 

Qual a causa do diabetes?

Agora que você já entendeu como o nosso corpo regula a glicose no sangue através da insulina, poderá entender o que pode acontecer quando alguém tem diabetes.

A causa do diabetes tipo 1

Uma primeira possibilidade é o pâncreas simplesmente deixar de produzir insulina. Isso ocorre por causas autoimunes (que ainda não são bem conhecidas pela ciência), isto é, quando o sistema imunológico (responsável pelas nossas defesas) ataca as células do pâncreas que produzem esse hormônio, conhecidas como células beta . A doença que decorre da situação que acabamos de descrever é o diabetes tipo 1 . Como a pessoa não pode mais produzir a insulina de que precisa, acaba tendo a necessidade de receber essa insulina de forma exógena, artificial. É por essa razão que, faz algum tempo, esse tipo de diabetes era chamado de insulinodependente. 

O diabetes tipo 1 acomete principalmente crianças e jovens, sendo responsável, nesta faixa etária, por quase 70% dos casos . Ao longo do tempo, ele também foi chamado de diabetes juvenil. É uma das doenças crônicas mais comuns da infância. Embora crianças de qualquer idade possam desenvolver a doença, é mais comum o diabetes aparecer em torno dos 5 ou dos 12 anos. 

Existe um componente familiar importante : quem tem um irmão com diabetes tipo 1 tem 8% mais chances de desenvolver a doença. Se esse irmão for gêmeo, esse risco adicional pode subir para 50%. 

Já o diabetes tipo 2, que não é o nosso foco neste texto, acontece quando o indivíduo até produz boas quantidades de insulina. As células do corpo é que não conseguem responder adequadamente a ela, num fenômeno que os médicos chamam de resistência à insulina. Essa situação ocorre normalmente em indivíduos com 30 anos de idade, ou mais, acima do peso e com histórico familiar de diabetes. 

Quais os sintomas do diabetes tipo 1

Normalmente os sintomas do diabetes tipo 1 são de instalação abrupta (alguns dias a poucas semanas), e muitas vezes o diagnóstico é feito durante um episódio de cetoacidose diabética , uma complicação aguda e séria do diabetes tipo 1 que vamos apresentar mais adiante. 

A falta de insulina e o acúmulo de glicose (que acontece em consequência) explicam os sintomas do diabetes. Sem insulina, as células não conseguem acesso ao açúcar e assim a pessoa pode ter um aumento da fome e, frequentemente, também se sente muito cansada, indisposta. Além disso, o corpo acaba tendo que obter energia de outra forma, a partir dos estoques de gordura e, por isso, a pessoa emagrece muito. Como o açúcar que não entra nas células se acumula no sangue, o organismo tenta eliminar o “excesso” de açúcar aumentando a sede, fazendo a pessoa beber mais água e urinar mais vezes. 

Algum tempo após o diagnóstico do diabetes tipo 1, pode acontecer de os sintomas acima melhorarem, ou até desaparecerem. A esse fenômeno se dá o nome de “ fase de lua de mel ” e ele ocorre porque, de alguma forma, o pâncreas recupera (ainda que parcialmente) a função de produzir e secretar insulina, normalizando os níveis de glicose no sangue. Essa fase, embora possa ser longa, é sempre temporária, sendo seu término marcado pelo retorno do quadro clínico. 

Como é feito o diagnóstico do diabetes tipo 1 em crianças?

A suspeita de que uma criança pode ter diabetes tipo 1 acontece quando o médico identifica os sintomas ou ainda quando um exame (às vezes feito por outra razão) demonstra a presença de glicose na urina.

A confirmação desse diagnóstico é feita através da dosagem da glicose no sangue (glicemia). Esse exame pode ser realizado das seguintes maneiras:

  • pela dosagem da glicemia de jejum , isto é, antes de a criança comer;
  • pela dosagem de uma glicemia qualquer (sem preocupação com o jejum); ou
  • por meio de um exame chamado Teste de Tolerância Oral à Glicose (também chamado de Curva Glicêmica), que consiste numa série de dosagens da glicemia, após a criança ingerir quantidades conhecidas de uma solução com glicose, em intervalos determinados.

Um outro exame que vale mencionar, embora seja utilizado mais para acompanhar o diabetes do que para fazer o diagnóstico, é a dosagem da Hemoglobina A1C , conhecida como hemoglobina glicada ou glicosilada. 

A hemoglobina é a proteína que carrega o oxigênio em nossas hemácias, as células vermelhas do sangue. Quando exposta durante um longo intervalo a glicemias elevadas, ela se combina com a glicose, formando a Hemoglobina A1C. Como essa combinação acontece de forma lenta, esse exame serve mais para o médico saber como tem andado a glicemia nos últimos meses, do que para fazer o primeiro diagnóstico do diabetes. 

Crianças e adolescentes que apresentam sintomas sugestivos de diabetes e exames de glicemia alterados em duas ou mais ocasiões, são diagnosticadas diabéticas.

Como é o tratamento do diabetes tipo1?

O diabetes tipo 1 não tem cura, segundo o que sabemos até o momento, sendo considerado, portanto, uma doença crônica. Mas, se não tem cura, o diabetes tipo 1 pode ser controlado, por meio de mudanças nos hábitos de vida e pelo uso de insulina. 

Em todas as situações, o foco do tratamento do diabetes tipo 1 é evitar as complicações agudas, como:

  • a hipoglicemia ou 
  • a cetoacidose diabética

e também as crônicas, decorrentes da hiperglicemia:

  • doenças cardiovasculares;
  • problemas renais;
  • problemas de visão e 
  • feridas nos pés. 

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Atividade física e alimentação adequada para crianças diabéticas 

Antes de mais nada, a dieta da criança diabética deve ser uma dieta equilibrada e rica em nutrientes, como a de qualquer criança. As refeições podem seguir os padrões que a criança já tinha antes do diagnóstico. Além disso, devem ser feitas de forma regular e, embora essa não seja uma regra rígida, manter as refeições e lanches no mesmo horário e com quantidades semelhantes de carboidratos costuma ajudar no controle da glicemia. 

A atividade física, feita de forma regular, melhora o controle da glicemia e ajuda na manutenção do peso da criança. O cuidado a se tomar, no caso, é o de evitar a hipoglicemia (baixa de glicose no sangue), em função de exercícios mais vigorosos. Algumas crianças podem precisar ingerir um pouco mais de carboidratos antes ou durante a atividade. 

Frutas, legumes, alimentos integrais e ricos em fibras devem ser priorizados. Por outro lado, alimentos ultraprocessados, doces, refrigerantes, assim como alimentos e bebidas com açúcar ou gordura saturada, devem ser evitados. A orientação de um nutricionista ajuda na elaboração de um cardápio gostoso e funcional.

Terapia com insulina

Como o corpo não produz a insulina necessária para que as células capturem a glicose do sangue, as crianças e jovens com diabetes tipo 1 necessitam receber a insulina artificialmente, de acordo com a prescrição do médico. Existem três conceitos importantes para conhecer, quando o assunto é terapia com insulina: os tipos de insulina, os esquemas de uso e os dispositivos para aplicação. 

Tipos de insulina

Os vários tipos de insulina disponíveis no mercado são classificados de acordo com algumas características funcionais:

  • o início de ação – o tempo necessário para que a insulina comece a agir no organismo, após a sua aplicação;
  • o pico – o intervalo até que a insulina atinja seu nível máximo de atividade; e
  • a duração da ação – o período em que a ação da insulina ainda é detectável no organismo. 

Então, para cada paciente, a tarefa do médico é combinar, da melhor forma possível, os diferentes tipos de insulina (considerando as características acima), de forma a manter a glicemia sob controle, evitando episódios agudos de hipoglicemia ou as complicações de longo prazo, associadas à hiperglicemia. 

Esquemas de uso da insulina

Embora cada criança ou jovem seja diferente, a prática clínica tem demonstrado maior chance de sucesso no controle da glicemia quando um desses esquemas de uso é seguido:

Esquema de Múltiplas Doses de Insulina

Esse esquema consiste em aplicar uma ou duas doses diárias de insulina de longa duração (chamada de dose basal), intercalando com doses adicionais de insulina rápida (dose em “bolus”), logo antes das refeições. A grande vantagem desse esquema é a flexibilidade, isto é, a dose em “bolus” pode ser ajustada conforme o horário e a quantidade de comida na refeição da criança.

Bomba de Insulina

No esquema de bomba, uma pequena dose (basal) de insulina rápida é administrada através de um cateter que fica localizado sob a pele. Doses adicionais (“bolus”)podem ser administradas manualmente, conforme as refeições ou mesmo se ocorrer um episódio de hiperglicemia. Esse esquema tem como vantagens a menor necessidade de “picadas” (injeções) e a possibilidade de um controle mais fino da dosagem ao longo do dia. 

Insulinas Mistas ou Bifásicas

São apresentações que combinam dois tipos de insulina (uma lenta e uma rápida), em proporções definidas, como 70/30 (70% insulina lenta e 30% rápida) ou 75/25. Habitualmente, são administradas duas doses, uma no café da manhã e outra no jantar. Esse é um esquema com menos “picadas” também, e mais fácil de administrar. 

Dispositivos para aplicação da insulina

O dispositivo mais antigo e mais conhecido é a seringa . A dose de insulina é aspirada de um frasco (que precisa ser mantido em geladeira, entre 2 e 8 graus de temperatura) e então aplicada, com o uso de uma agulha fina, no tecido subcutâneo (sob a pele) do braço, da coxa ou da barriga. 

Já a caneta de insulina é um dispositivo que contém um cartucho com várias doses de insulina, que podem ser aplicadas de forma muito prática e conveniente ao longo do dia. O ajuste da dose pode ser feito ao girar a extremidade da caneta.

O dispositivo mais moderno é a bomba de insulina . Como o nome diz, a insulina é bombeada de um reservatório para o tecido subcutâneo por meio de um pequeno cateter. Esse é o método menos doloroso porque o local de instalação desse cateter só precisa alternado a cada 2-3 dias. A bomba é programada para infundir uma dose mínima de insulina rápida ao longo do dia (dose basal), podendo ser acionada para doses adicionais, sempre de insulina rápida, nas refeições ou em caso de hiperglicemia (dose em “bolus”). As bombas inclusive podem ser programadas para administrar diferentes doses de insulina durante o dia ou à noite. 

Já existem versões que combinam a bomba com monitores contínuos de glicemia (ver adiante) em um único dispositivo, permitindo um funcionamento mais próximo do que seria o de um pâncreas normal. 

Qualquer que seja o dispositivo, é importante alternar o local de aplicação, uma vez que o excesso de aplicações de insulina num único local pode causar a formação de nódulos de gordura no tecido subcutâneo. O acúmulo desses nódulos pode prejudicar a absorção da insulina injetada e, assim, tornar mais difícil o controle da glicemia. 

Monitoramento da glicemia

Independente do tipo de insulina, do esquema de uso ou do dispositivo, uma coisa é certa – a eficácia e a segurança da terapia com insulina dependem do monitoramento frequente e adequado da glicemia.  

Isso pode ser feito com aquele pequeno aparelho, que todo mundo conhece, o glicosímetro – popularmente conhecidos como monitores . A pessoa faz um furo pequenino na ponta do dedo, usando um acessório chamado lanceta, que tem uma agulha muito pequena na ponta. Então deixa o sangue que sai por esse furo no dedo gotejar numa tira com reagentes químicos, já inserida no aparelho, que faz a leitura e retorna o resultado em poucos segundos. Esse é um método simples, rápido e pouco doloroso (a não ser que muitas picadas sejam necessárias ao longo do dia). 

Uma outra maneira é monitorar continuamente a glicemia , por meio de sistemas próprios para esse fim. Esses sistemas usam um pequeno sensor de glicose que é colocado sob a pele e mede a glicemia em intervalos de 1 a 5 minutos, durante as 24 horas do dia. Alguns desses sistemas precisam de calibração (com o uso do glicosímetro), outros não – funcionam bem sem ela. Contam também com alarmes que acusam situações de glicemia acima ou abaixo do esperado, e são tipicamente usados por pacientes que recebem a insulina por meio da bomba de insulina. 

Como evitar complicações do diabetes tipo1 

O acompanhamento da saúde da pessoa com diabetes tipo 1 deve ser feito periodicamente, conforme a orientação do médico. Em geral, é importante acompanhar a hemoblogina glicada a cada três meses , e avaliar anualmente a saúde dos olhos e dos rins. No mais, o médico pode também buscar saber a quantas andam o colesterol, os triglicérides e, eventualmente, a pressão arterial. 

Sem dúvida, o foco do acompanhamento é evitar as complicações, tanto as crônicas (que acabamos de mencionar), quanto as agudas: a hipoglicemia e a cetoacidose diabética

Hipoglicemia

A hipoglicemia (baixa de glicose no sangue) pode acontecer por conta de uma dose muito alta de insulina, porque a criança não se alimentou com regularidade, ou porque praticou atividades físicas por um período muito longo, sem se alimentar. O tratamento, obviamente, consiste em dar o açúcar necessário: na forma de solução, gel, bala ou até mesmo um suco de frutas! E é importante que o tratamento seja feito rapidamente, porque a hipoglicemia não tratada pode resultar em fraqueza, desmaio, coma e até morte. 

Cetoacidose Diabética

Já a cetoacidose diabética acontece mais frequentemente em crianças ainda não diagnosticadas. Ocorre que, na falta de glicose para gerar energia dentro das células, o corpo começa a produzir essa energia por meio da quebra de gorduras. Um dos produtos dessa quebra de gorduras são as cetonas. O problema das cetonas na corrente sanguínea é que elas tornam o sangue ácido, podendo causar vários problemas: desidratação, desequilíbrio em vários minerais do sangue (como o potássio), inchaço no cérebro, coma e até a morte. O quadro clínico deve sempre chamar a atenção dos pais (e dos médicos): náusea, vômitos, fadiga, dor abdominal e um hálito típico, que cheira a removedor de esmalte de unha

Convivendo com o diabetes tipo 1

É claro, um diagnóstico de diabetes tipo 1 abre as portas para toda a sorte de dúvidas, medos e ansiedade. 

Mas lembre-se: seu filho(a) precisa de você. Entender que tem uma doença para a vida toda pode ser um desafio e tanto. Raiva, tristeza e até mesmo a negação podem aparecer… Se isso acontecer, não deixe de conversar a respeito com seu médico e, se puder, procure ajuda especializada, de um psicólogo. O mais importante: esteja próximo de seu filho(a). 

Além disso, nessa hora, é importante você se lembrar de que não está sozinho. Além do esforço e da dedicação de muitos profissionais de saúde (desde as salas de consultório até as bancadas dos laboratórios de pesquisa), você conta também com outros pais, familiares, amigos e pacientes que estão, nesse momento, passando pelo mesmo que você. Todas essas pessoas, você encontra aqui, na comunidade Tipo 1!

Fizemos tudo com muito carinho, para que você encontre o que precisa – informação, amigos, serviços e produtos – para cuidar bem da sua saúde (ou da saúde de quem você mais ama!). Seja bem-vindo!

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